No bairro do Jeremias, em Campina Grande, na Paraíba, um projeto desenvolvido no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) tem fortalecido a autonomia de mulheres em situação de vulnerabilidade social ao aliar educação financeira ao reaproveitamento de alimentos. A iniciativa integra o programa federal Alimenta Cidades, do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), e é desenvolvida pela Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS).
As oficinas de educação financeira que são parte deste projeto são conduzidas pela economista Karolline de Lucena, especialista em Educação Financeira e Engenharia de Produção, que atua na SEMAS. Segundo a profissional, a proposta vai além da alimentação e do dinheiro. “O Bolsa Família é uma política pública muito importante junto a esse projeto porque dá mais autonomia a essas mulheres. Aqui, elas aprendem a lidar melhor com os recursos que já têm, a produzir alimentos a partir do que seria descartado e a precificar esses produtos como alternativa de renda. Já formamos uma turma no semestre passado e estamos em andamento com uma nova”, relata.
Dona de casa e moradora do Jeremias há mais de 20 anos, Alzenira Lima Batista participa das oficinas no CRAS e destaca como o projeto tem transformado sua rotina. “Eu participo de todas as oficinas aqui no CRAS e elas me ajudam muito, na vida diária. Já me ajudaram a me orientar financeiramente, a como não jogar um monte de coisa no lixo e agora a gente planta em casa. Eu tenho minha horta e já planto e uso meu próprio coentro, alface e outras coisas. Isso até mentalmente já me ajudou, porque eu já estive muito doente”, compartilha.
Bolsa Família aumenta renda e diminui desemprego
A ação é um exemplo concreto e cotidiano que desmistifica a ideia de que o Bolsa Família desestimula a busca por trabalho. Um estudo recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelou que, mesmo com a ampliação do programa entre 2019 e 2023, houve melhora nos indicadores de emprego com carteira assinada entre os mais pobres. De acordo com a pesquisa, a taxa de desemprego caiu em todas as faixas de renda que recebem o auxílio, principalmente entre os 20% mais pobres — faixa em que houve redução de 4,3% no desemprego.
A pesquisa, divulgada em maio, mostrou também que o aumento no valor do benefício foi acompanhado de avanços no mercado de trabalho. Essa dinâmica se confirma em projetos como o do Jeremias, onde mulheres beneficiadas aprendem a empreender, gerir recursos e ampliar sua autonomia financeira.
Mais de 667 mil famílias receberam o Bolsa Família na Paraíba em junho
De acordo com a economista Karolline, cerca de 38 mil mulheres em Campina Grande recebem o auxílio. Mas é a capital paraibana a cidade com o maior número de beneficiários no estado, com 84,4 mil famílias atendidas pelo programa. Campina Grande figura em segundo lugar, seguida de Santa Rita (18.710), Bayeux (16.523) e Patos (14.540), como apontam os dados do Governo Federal.
No estado, ao todo, mais de 667 mil famílias paraibanas, do litoral ao sertão, são contempladas pelo programa. O investimento supera R$ 442 milhões, com um benefício médio de R$ 662,90, mas o valor pode variar de acordo com benefícios complementares, de R$ 50, destinados a famílias com crianças e adolescentes de 7 a 18 anos, gestantes e nutrizes. A maioria dos lares beneficiados é chefiada por mulheres: elas representam 83,7% dos responsáveis familiares no Brasil. Já as pessoas pretas e pardas somam 73% dos que recebem o Bolsa Família no país.